segunda-feira, 30 de novembro de 2009

tempo louco

pela janela de são pedro, passou o bloco dos anjos pelados tocadores de harpa. o velho se abestalhou e foi atrás. a máquina do clima ficou ligada no shuffle.

segunda-feira, 31 de agosto de 2009

intimidade é uma merda.

tá o casalzinho romântico nadando no mar azul, morno e afrodisíaco de uma das praias mais lindas, quentes e afrodisíacas de fernando de noronha. a mocinha bóia, o mocinho nada, ela nada, olha pro céu, ele bóia, fala do sol. aquela animação...

de repente, não mais que de repente, um grito de terror quebra o silêncio e todo o equilíbrio do ecossistema local. e pelo agudo, só pode ser mulher ou golfinho.

- aaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaah!
- que foi amor?
- ecaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaa! um cocô!!!!!
ele segura o braço da amada, com a segurança e a tranquilidade de um velho marujo, e diz:
- relaxa que é meu.

*história ótima, roubada de um churasco ótimo, e que combina de-ve-ras com meu blog. não resisti.

terça-feira, 25 de agosto de 2009

opa, esqueci de novo...

outro dia, avaliando a produtividade(?) da minha vida nas páginas em branco da minha agenda, cheguei a uma impressionante estatística. de todas as consultas médicas que marquei esse ano, só compareci a 10%. que coisa feia. que absurdo, que pessoa sem consideração eu sou.

a verdade é que eu nunca senti remorso por faltar essas consultas. não sei se estou enganada mas, pra mim, agenda de médico é que nem reserva de avião. se todo mundo que marcou consulta comparecesse, certeza que ia dar overbooking. e eles sempre atendem com uma ou duas horas de atraso, sendo assim, qual é o problema de atrasar uma semaninha, quinze dias? é limpeza faltar, gente. mas também não pode abusar que deus castiga. e quando a gente abusa, parece uma coisa. o destino dá um jeito de avisar: filhinha, se liga que tu tá exagerando.

segunda-feira, 9h da matina. segundo consta na agenda do dr. otávio, otorrino, eu já deveria estar na recepção do consultório, aguardando minha vez. mas eu fulerei de novo, claro. tudo bem, já era. vamo ver se eu consigo chegar na hora pelo menos no trabalho. enquanto eu me arrumava atrasada, um número desconhecido ligou 3 vezes pro celular e eu não atendi. merda, deve ser do consultório. quando tiver saindo eu retorno.

- alô?
- alô.
- tudo bem?
- tudo.
- olha, vocês me ligaram agora e eu não pude atender. desculpa não ter ligado pra avisar, mas eu não vou poder chegar a tempo. tinha marcado pra 9h15.
- eeeer... desculpe. você marcou com quem?
- ah, não lembro o nome, mas é otorrino. será que você poderia remarcar pra mim?
- tá, mas aqui é um cartório.


valeu, galera, já entendi. preciso parar com isso.

terça-feira, 7 de julho de 2009

dadaísta psicodélica

ela é assim. começa e encerra assuntos como quem pisca os olhos, como quem inspira e expira. dos testes atômicos na coréia do norte ao aumento do preço da acelga, os assuntos se intercalam sem parênteses e sem aviso, para desespero dos amigos e companheiros de mesa de bar.

dia desses, a conversa era sobre, ah, nem me lembro mais sobre o que era a conversa. mas ela veio com mais uma de suas intervenções dadaístas-dialéticas, deixando completamente embasbacados os ouvintes que tentavam encontrar qualquer indício de lógica entre drinks e fumaça.

- ali perto de paulinho tem um peixe acocorado. vocês já viram?
- hein?
- ali na avenida domingos ferreira, perto de paulinho.
- paulinho ali perto de paulo miranda?
- não. paulinho mesmo, o bar.
- sim, eu sei. mas não é ali pertinho de paulo miranda, a imobiliária?
- ah, sim, é. pensei que tu achou que eu chamava paulo miranda de paulinho...
- não, não. intimidade da porra.
- hehehehe.
- mas, peraí, como é mesmo a história? peixe acocorado?
- sim... fica ali em paulinho, vocês já viram?
- nunca vi na minha vida. mas ali onde?
- onde o que?
- onde fica esse peixe acocorado?
- ai. de novo isso? fica na avenida, na rua, oras.
- como assim na rua? no meio da avenida, ali no canteiro?
- vocês tão doidos é? que viagem, no meio do canteiro....
- ô porra. me diz logo onde é que quando eu passar na frente quero ver como é esse bendito peixe acocorado! tô ficando nervosa já.
- mas eu já disse.
- dá pra ver de longe?
- ah, é só passar na frente. você vai ver um restaurante fulerinho, bem pé de escada, e tem uma faixa escrito “peixe acocorado”.
- peixe acocorado é um restaurante?
- não, é um prato. peixe no molho de coco.
- putaquiopariu. não é uma estátua? não é um peixe gigante, de cerâmica, em posição de cagar, assinado por brennand?
crise de riso.
- vocês são uma viagem.
- vocês são uma viagem? vocês?? e tu, que ficou até agora explicando onde era, e a gente tentando entender o que era a porra do peixe acocorado?!
- mas vocês não sabiam?
- não!!!!
- e eu não falei não?
- não!!!!
- hehehehe...

* uma homenagem à minha irmã, cônjuge e diversão diária.

segunda-feira, 8 de junho de 2009

possas acreditar tu.

pode crer, pode crê, possas crer, ou podi-crê são variações de uma expressão amplamente difundida em todos os estados do brasil. do oiapoque ao chuí, essa gíria é usada para reforçar a veemência de uma afirmação e, porque não dizer, facilitar a comunicação . por exemplo, fulano fala: “velho, que frio do caralho”. beltrano confirma: “pode crê”. mais um exemplo: “não sei o que você acha mas, pra mim, aquele cabelo de roberto justus é laquê com brilhantina”. “pô, pode crer”. fácil, simples e objetivo, concorda? nem sempre. não sei se ando freqüentando lugares obscuros, se presto atenção demais ao meu redor ou se tudo isso só acontece comigo, mas dia desses descobri uma nova função para esse belo recurso lingüístico. aliás, função não é bem a palavra.

estava eu de bobeira na rua, esperando meu milho cozido no potinho, quando escuto dois caras que aparentemente acabaram de se conhecer. no meio de muito blá blá blá, de repente, a pérola: “e aí, você mora onde”? “eu moro em moema”. “pode crer”. fez-se um estranho silêncio e eu, do susto, quase engulo a colherzinha do milho. hein? fiquei de toca, tentando descobrir o que diabo o cidadão quis dizer com esse pode crer. não sei, não entendi, no compreendo. tudo bem que o cara já começou errando quando foi morar em moema, mas isso não é motivo pro amigo mandar um pode crer assim tão enigmático. porra. moro em moema é só uma informação, um dado, um endereço. não é uma opinião com a qual você concorda: moema é lindo. pode crer. é um fato: moema fica perto de congonhas. ponto final. depois disso cabe, no máximo, um ok ou até um “noooossa, puta barulhão lá mêu”, mas nunca um pode crer.

sei não, to confusa. agora não sei mais se eu é que sou muito chata ou se de fato existe uma barreira cultural que me impede de compreender outras formas de expressão. de qualquer jeito, acho que to precisando dar um pulinho em recife. meus neurônios tão cansados de tanta amônia.

*fonte, inspiração e argumento: fernando maymone.

quinta-feira, 4 de junho de 2009

monossílabos caóticos

os apelidos que os paulistanos dão aos seus queridíssimos amigos e colegas de trabalho, definitivamente, não funcionam como ferramenta facilitadora da comunicação. a fá, a rê, a la, o ma, o ri, a ju, o gu... são sempre monossílabos, sempre uma redução simples do seu primeiro nome. prático né? não. o problema é que, infelizmente, só existem 26 letras no alfabeto e, dentre elas, algumas tem fonética igual ou muito parecida. você tem que ter ouvido de tuberculoso pra saber se estão chamando a na ou a ma. e quando acontece a situação altamente improvável, a terrível coincidência, de haver duas pessoas com o início no nome igual? aí complica.

imagina só você, que se chama marieta, e trabalha com uma moça chamada maria. é ma pra cá, ma pra lá, e você para o tempo todo pra ver quem está te chamando e, lógico, nunca é com você. sua vida vira um verdadeiro inferno, sua produtividade cai, seu chefe pergunta se você está com problemas em casa. tudo porque aqui, na capital mundial da criatividade para apelidos, não interessa se você se chama carolina, camila, kátia, cassandra ou caceta, você sempre (eu disse sempre) será reduzida a uma sílaba. ca. ou ka, dá no mesmo. pois bem.. acontece que, por uma desgraça do destino, a recepcionista aqui da agência foi embora. a fê. e adivinha só quem entrou no lugar dela? a ca. eu adoro a ca, ela é muito melhor que a fê, só que a desgraçada fudeu com minha vida. eu era feliz e não sabia.

segunda-feira, 1 de junho de 2009

tem mas tá faltando...

no mundo inteiro, deve haver pouquíssimos lugares com fauna tão rica quanto são paulo. basta andar na rua e você nota que por aqui trafegam livremente seres das mais variadas espécies, ou como diria minha amiga dayana, pessoas humanas de todos os tipos. é fantástico. desde que amarrei meu jegue aqui em sampa, posso dizer que já vi de um tudo. já vi cearense descendente de alemão, filho humilde de carioca com argentino, judeu desapegado de bens materiais, casal careta de pernambucana com jamaicano, maranhense que nasceu na Itália (hein?), trabalha no amazonas e vive em dubai, bahiano workaholic, japonês com sotaque de gaúcho, e até acreano dizendo que existe. digaí que muderno.

essa cidade tem de tudo. ou melhor, quase tudo. porque tem um espécime raro, bem dizer extinto dos núcleos sociais vulgares, que ao vivo, assim de pertinho mesmo, eu nunca vi não. você por acaso conhece algum paulistano puro? sim... paulistano puro, ariano, daquele que nasceu, cresceu, estudou e passou férias em são Paulo. tem não truta. e se tem, alguém por favor me diga onde essas pessoas foram parar. fico achando que todos eles estão presos num engarrafamento qualquer na marginal tietê, buzinando loucamente. nos fins de semana, eles devem ficar todos entulhados nas arquibancadas do pacaembu, ou correndo em círculos no ibirapuera. ou nas filas de restaurantes caros. aliás, em qualquer fila. dizem que paulistano adora uma fila... eu, como boa pernambucana que sou, morro de medo de fila. e, cá entre nós, também temo pelo dia em que cruzarei o caminho de um paulistano puro. sei não... não se pode esperar atitudes equilibradas de alguém que nunca apanhou brincando de cuzcuz, nunca catou tatuí na areia da praia, nunca chamou a mãe do melhor amigo de puta velha e nunca saiu pra brincar e voltou com o pedaço de pixe colado na orelha. sabe o que eles fazem no verão? põem uma bermuda, um tênis e saem por aí com a meia esticada na canela.

terça-feira, 19 de maio de 2009

pelo nosso próprio bem

outro dia eu tava no ônibus morrendo de vontade de fazer xixi. sem perder a concentração, rezava pra santa genoveva liberar o trânsito e eu poder chegar em casa logo e pensar em outra coisa que não fosse minha bexiga explodindo e destruindo a terra. com um esforço enorme, consegui controlar minha mente e imaginei que não, o coletivo não estava saculejando pra lá e pra cá e não, não se passaram trinta minutos até chegar em casa. foram só cinco. ah, o poder da mente... graças a ele e, claro, à benevolência de santa genoveva, mantive minha dignidade intacta, ou melhor, enxuta, até chegar ao aconchego do meu banheiro. que alegria, que prazer, que satisfação. deus é sábio. pra fazer a gente perceber o prazer que há nas pequenas coisas, como por exemplo uma simples mijadinha, inventou o trânsito, as ruas esburacadas e as filas de banheiro de bar. não satisfeito, limitou o uso das fraldas descartáveis a bebês e idosos. tudo pela nossa felicidade. tudo pra gente aprender a dar valor ao que realmente importa. e você fica aí reclamando que tá sem dinheiro, que tá ficando careca, que é corno... francamente, quanta futilidade... parece que nunca passou necessidade fisiológica na vida.

segunda-feira, 30 de março de 2009

é preciso saber esperar?

dia desses, carocha e chico me convidaram pra escrever minhas asneiras num blog bacana, projeto coletivo de pessoas bacanas, lido e comentado por pessoas bacanas, essa coisa toda. confesso que não entendi bem a razão do convite, mas topei na hora, óbvio. eu não sou mulher de fuleragi, não sou mulher de negar desafio. sou uma mulher valente, arre! seis meses depois, com a pontualidade que me é peculiar, cá estou eu tentando escrever meu primeiríssimo texto pro blog. confesso a vocês que estou sem assunto, sem tempo, sem inspiração e sem desodorante – caso alguém venha alegar que escrever é um trabalho de transpiração. e tem mais. minha pauta está praticamente despencando de trabalho, os prazos são todos pra sexta passada, minha tpm está bombando e a agência acaba de contratar mais um idiota pro atendimento, que sorriu efusivamente pra mim, conquistando de imediato minha antipatia. é aí que você me pergunta: sábia karina, por que você resolveu escrever justo agora? e eu te respondo: não sei, tava só esperando o melhor momento.

terça-feira, 3 de fevereiro de 2009

eu tenho fé na piada-pronta

agora que os bombeiros já encontraram e resgataram mortos, vivos, feridos e inocentes (ainda não há sinal de culpados), acho que nós, infiéis e curiosos, já podemos especular sobre as histórias que existem ali por baixo dos caquinhos de concreto da igreja renascer. pra quem não lembra, com todo respeito, aquilo ali foi bem dizer o templo sagrado do cabaço de kaká. foi lá que o craque mais sem sal sem pimenta e sem graça do futebol mundial, digamos assim, contraiu matrimônio e entrou pro hall dos crentes sexualmente ativos. é pra lá também que kaká, cristão resignado que é, envia religiosamente 10% do seu gordo salário. eu não sei quanto ele ganha, mas chutando... vamos supor que, só de salário, o kaká ganha uns 3,5 milhões por mês (deus é bom, kaká! deus é bom!). sendo assim, todo mês, são 350 mil caindo lindamente na conta da igreja renascer. um investimento seguro, promissor, coisa de gênio. afinal de contas, é notório que o mercado imobiliário celestial está com fortes tendências de valorização. basta reparar na babilônia em chamas que se tornou nosso velho reino dos mortais e, principalmente, no sem-número de vips e famosos que está investindo no setor. e olha... se lá no céu for igual aqui na terra, basta chegar uma celebridade, que a área valoriza horrores. é batata.

eu não sei exatamente como funciona a divisão dos lotes mas, quem compra um lugarzinho no céu, não compra um lugar assim aleatoriamente... a turma paga caro e quem paga caro quer lugar na frente né. eu, se fosse evangélica, não pensava duas vezes, tratava logo de descobrir onde danado fica esse terreno do kaká e comprava um do lado, assim miudinho mesmo, do tamanho do meu dízimo, e ficava na minha. uns dez anos depois, vendia o terreno a preço de ouro e ficava por aqui mesmo pelo purgatório, o verdadeiro templo do além-vida mundana. vê que idéia da porra. eu, mortinha da silva, morando bem no purgatório e cheia de dinheiro no bolso pra gastar com meus amigos. sim, porque os meus amigos, graças a deus, não pagam dízimo, só se interessam pela ascensão do tipo social e nunca iriam pra uma festinha na minha casa sabendo que eu sou vizinha do kaká. aposto um lugar no céu que, com 15 minutos de festa, ele ia ligar lá pra casa reclamando do barulho.