pode crer, pode crê, possas crer, ou podi-crê são variações de uma expressão amplamente difundida em todos os estados do brasil. do oiapoque ao chuí, essa gíria é usada para reforçar a veemência de uma afirmação e, porque não dizer, facilitar a comunicação . por exemplo, fulano fala: “velho, que frio do caralho”. beltrano confirma: “pode crê”. mais um exemplo: “não sei o que você acha mas, pra mim, aquele cabelo de roberto justus é laquê com brilhantina”. “pô, pode crer”. fácil, simples e objetivo, concorda? nem sempre. não sei se ando freqüentando lugares obscuros, se presto atenção demais ao meu redor ou se tudo isso só acontece comigo, mas dia desses descobri uma nova função para esse belo recurso lingüístico. aliás, função não é bem a palavra.
estava eu de bobeira na rua, esperando meu milho cozido no potinho, quando escuto dois caras que aparentemente acabaram de se conhecer. no meio de muito blá blá blá, de repente, a pérola: “e aí, você mora onde”? “eu moro em moema”. “pode crer”. fez-se um estranho silêncio e eu, do susto, quase engulo a colherzinha do milho. hein? fiquei de toca, tentando descobrir o que diabo o cidadão quis dizer com esse pode crer. não sei, não entendi, no compreendo. tudo bem que o cara já começou errando quando foi morar em moema, mas isso não é motivo pro amigo mandar um pode crer assim tão enigmático. porra. moro em moema é só uma informação, um dado, um endereço. não é uma opinião com a qual você concorda: moema é lindo. pode crer. é um fato: moema fica perto de congonhas. ponto final. depois disso cabe, no máximo, um ok ou até um “noooossa, puta barulhão lá mêu”, mas nunca um pode crer.
sei não, to confusa. agora não sei mais se eu é que sou muito chata ou se de fato existe uma barreira cultural que me impede de compreender outras formas de expressão. de qualquer jeito, acho que to precisando dar um pulinho em recife. meus neurônios tão cansados de tanta amônia.
*fonte, inspiração e argumento: fernando maymone.
Há 3 anos